cronologia dos autores

.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

o início de CÁRCERE INVISÍVEL (1949), de Francisco Costa


«Em longos anos de rotina diária, meu pais afeiçoara-se de tal modo ao armazém de panos onde era o principal empregado, que ali fazia inúmeros serões, gozando raivosamente a ausência do patrão.»
(Lisboa, Editorial Verbo, 1972)

pontos prévio: Alves Redol, BARRANCO DE CEGOS (1961)

«Já lá vão quase cinquenta anos, tempo suficiente para que um lago se torne num pântano ou uma estrela distante e misteriosa se transforme num mundo corriqueiro, ambos possíveis por obra dos homens.»

Francisco Costa, CÁRCERE INVISÍVEL (1949)




«De mansinho (estou a vê-lo!), abriu a porta da rua, subiu no escuro os três degraus da entrada onde o próprio mau cheiro lhe agradava, e apalpando à esquerda, meteu sem ruído a chave na fechadura.»

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Aquilino Ribeiro, ANDAM FAUNOS PELOS BOSQUES (1926)




«Tarde de infinita benignidade -- era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -- ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão.» 

Joaquim Paço d'Arcos, ANA PAULA (1938)






«Seguiam sem pressa, um pouco vergados pelas próprias figuras, olhando mais o piso da estrada do que os amplos horizontes à sua volta.»

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Manuel da Fonseca



 «Agora Maria Campaniça há muito tempo que vive com o seu homem. Quando quer saber os anos ao certo, conta o número de filhos. Tem cinco e o mais novo poucos meses. Portanto, vai para sete anos que está com o Baleizão.» Manuel da Fonseca,  «Campaniça», Aldeia Nova,(1942).

Manuel da Fonseca


«Maria Campaniça, quando era solteira, pensava todos os dias fugir da aldeia. Era nova e tinha o rosto corado e um lenço de barra amarela. Subia a quebrada, sentava-se no cabeço mais alto à sombra de um chaparro e punha-se a pensar para que lado partiria. Mas o descampado, correndo sem fim por vales e outeiros, bravio, agressivo de cardos e de tojos, metia-lhe medo. Maria Campaniça juntava os porcos e voltava à aldeia, há hora do entardecer.» «Campaniça», Aldeia Nova (1942)

Manuel da Fonseca, «Campaniça»


«Anos e anos a olhar o descampado, os olhos cansaram-se de ver sempre o mesmo. A vista dos homens de Valgato é um sentido embotado. Há uma névoa cobrindo-a, mesmo de dia com o céu esbranquiçado e o lume do Sol tremendo no ar. E sem ver, ainda a manhã vem do outro lado do mundo, os homens, certinhos como a mula do Zé Tarrinha, andam léguas e léguas e vão dar às herdades. E de noite, sempre de noite, tornam para a aldeia, certos e direitos, com os olhos cegos do sono que volta. »  Aldeia Nova (1942)

Camilo Castelo Branco, AMOR DE PERDIÇÃO (1862)





«Se comparo o Amor de Perdição, cuja 5.ª edição me parece um êxito fenomenal e extralusitano, com O crime do Padre Amaro e O primo Basílio, confesso, voluntariamente resignado, que para o esplendor desses dois livros foi preciso que a Arte se ataviasse dos primores lavrados no transcurso de dezasseis anos. O Amor de Perdição, visto à luz eléctrica do criticismo moderno, é um romance romântico, declamatório, com bastantes aleijões líricos, e uma ideias celeradas que chegam a tocar no desaforo do sentimentalismo.. Eu não cessarei de dizer mal desta novela, que tem a brutal insolência de não devassar alcovas, a fim de que as senhoras a possam ler nas salas, em presença de suas filhas ou de suas mães, e não precisem de esconder-se com o livro no seu quarto de banho. Dizem, porém, que o Amor de Perdição fez chorar. Mau foi isso. Mas agora, como indemnização, faz rir; tornou-se cómico pela seriedade antiga, pelo raposinho que lhe deixou o ranço das velhas histórias do Trancoso e do padre Teodoro de Almeida.» «Prefácio da quinta edição», 1879.

Camilo Castelo Branco, AMOR DE PERDIÇÃO (1862)

«Não seria fiar demasiado na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço de dezoito anos lhe há-de fazer dó.»  

domingo, 11 de fevereiro de 2018

o início de ANDAM FAUNOS PELOS BOSQUES (1926). de Aquilino Ribeiro


Rubicundo, pesadão de farto, o estômago bem lastrado com lombo de vinha-de-alhos, padre Jesuíno saiu a espairecer para a varanda que a aragem da serra brandamente refrescava.» (s.ed., Lisboa, Livraria Betrand, 1979).

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

o início de ANA PAULA (1938), de Joaquim Paço d'Arcos

«Pela estrada plana, que, bordejando as baterias do campo entrincheirado, liga a fortaleza de S. Julião da Barra à estação de Oeiras, seguiam naquela tarde outonal de Novembro de 35 dois vultos que, a distância, semelhavam pela gentileza do garbo e interesse na conversação, par de noivos que, desejando-se solitário, houvesse buscado aquele caminho pouco frequentado para seu passeio e íntimas confissões.» (9.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1954)

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Camilo, o romantismo e a nova escola realista (1879)

«Se comparo o Amor de Perdição, cuja 5.ª edição me parece um êxito fenomenal e extralusitano, com O crime do Padre Amaro e O primo Basílio, confesso, voluntariamente resignado, que para o esplendor desses dois livros foi preciso que a Arte se ataviasse dos primores lavrados no transcurso de dezasseis anos. O Amor de Perdição, visto à luz eléctrica do criticismo moderno, é um romance romântico, declamatório, com bastantes aleijões líricos, e uma ideias celeradas que chegam a tocar no desaforo do sentimentalismo.. Eu não cessarei de dizer mal desta novela, que tem a brutal insolência de não devassar alcovas, a fim de que as senhoras a possam ler nas salas, em presença de suas filhas ou de suas mães, e não precisem de esconder-se com o livro no seu quarto de banho. Dizem, porém, que o Amor de Perdição fez chorar. Mau foi isso. Mas agora, como indemnização, faz rir; tornou-se cómico pela seriedade antiga, pelo raposinho que lhe deixou o ranço das velhas histórias do Trancoso e do padre Teodoro de AlmeidaAmor de Perdição, «Prefácio da quinta edição», 1879. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

o início de AMOR DE PERDIÇÃO (1862), de Camilo Castelo Branco

 «Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte:» (Companhia Portuguesa Editora, Porto, 1917)