tag:blogger.com,1999:blog-42809751802330693862024-03-14T02:06:32.549+00:00impressões, paisagens,os meus escritoresUnknownnoreply@blogger.comBlogger222125tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-26936261176433081032022-09-16T16:20:00.006+01:002022-09-21T14:58:27.981+01:00CARTAS DE AMOR À VISCONDESSA DA LUZ -- Estados emocionais alterados<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"></span></span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUv8yaAXj-xf7GDBi4lmbDabDVvT3aHEKCFnVHyfGGBz2fBOHXcAkWxqFZAzxyb3qGbWfkyCA_LsKJ5F_WoGzOxerXn0pJdqbGKCQm8s5pRphB5uWPeqLKtII_OlAZj1-sKUdPQP7UTmooh7UJRc9STnJ0mNBAKM9DcZFad2bZoKNpfATnZBaSvK64/s770/502x.webp" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="770" data-original-width="502" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUv8yaAXj-xf7GDBi4lmbDabDVvT3aHEKCFnVHyfGGBz2fBOHXcAkWxqFZAzxyb3qGbWfkyCA_LsKJ5F_WoGzOxerXn0pJdqbGKCQm8s5pRphB5uWPeqLKtII_OlAZj1-sKUdPQP7UTmooh7UJRc9STnJ0mNBAKM9DcZFad2bZoKNpfATnZBaSvK64/w131-h200/502x.webp" width="131" /></a></div>Enquanto houver literatura portuguesa (ou a memória dela), Garrett será sempre um dos nomes cimeiríssimos. E, portanto, nem sequer estou a contemplar a sua dimensão histórica e política, que foi grande. Não é impunemente que se escreve uma obra-prima absoluta (</span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Frei Luís de Sousa</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">), a melhor poesia do romantismo português (</span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Folhas Caídas</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">) ou se inaugura o romance moderno em língua própria (</span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Viagens na Minha Terra</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">). É o primeiro escritor português da primeira metade do século XIX, e só uma pessoa pode com ele ombrear, principalmente graças a monumental e fundadora obra de historiador: Alexandre Herculano.</span></span></div><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Vem isto a propósito das C</span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">artas de Amor à Viscondessa da Luz</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">. Sobre Eça de Queirós (outro gigante), Vergílio Ferreira disse qualquer coisa parecida com isto: dele tudo nos interessa, até a conta da lavandaria. Estas cartas são obra paraliterária, não foram escritas para publicação e reflectem um estado emocional alterado. Embora a epistolografia possa ostentar-se os galões de literatura de pleno direito -- vários foram os autores que viram as suas cartas equiparadas à obra mais </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">séria</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">, quando não suplantá-la: estou a lembrar-me de obras-primas como as </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Cartas do Cárcere</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">, de Gramsci ou da maior parte das missivas do Eça, sempre ele --, não é isso que se passa com estas do punho garrettiano.</span></div></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Não que elas seja excessivamente anódinas, bem pelo contrário; não que a sua publicação não se justificasse. Há nelas muitos elementos úteis para estudo em várias áreas.</span></div></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">São cartas de tal modo pessoais, unívocas, íntimas e obsessivamente repetitivas, que valem por essa expressão extrema de amor ardente e transgressor, penetrando de tal forma na intimidade do escritor que valem por essa verdade desvelada. Felizmente, o Pessoa já nos dera o antídoto para as cartas de amor -- e além do mais, que diabo!, esta paixão deu-nos as </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Folhas Caídas</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">... 22 cartas que se salvaram, dentre as centenas que foram escritas e trocadas. Um milagre, portanto. É a segunda vez que se publicam, depois da edição de José Bruno Carreiro, que assinalou, em 1954, o centenário da morte de Garrett, um trabalho impecável do investigador brasileiro Sérgio Nazar David.</span></div></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Em duas palavras: Rosa Montúfar Infante, espanhola lindíssima, mulher do Visconde da Luz, militar e político de destaque, é amante de Almeida Garrett na segunda metade da década de 1840 até ao início do decénio seguinte. de Garrett temos a ideia do escritor quase-dândi, viril e sedutor com as mulheres, o eco do tribuno de voz bem colocada e palavra assertiva, do homem de acção que foi um dos </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">bravos do Mindelo</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">. ler-lhe os delíquios amorosos chega a ser perturbador e incómodo, passados 160 anos da sua morte, de tal modo ele </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">é ainda nosso contemporâneo</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">. As cartas são patéticas -- a paixão é patética (todas as paixões o são). A que leva o número XVIII, em que testemunhamos o seu desengano, a sua ingenuidade, o seu desgosto, essa, então, é dilacerante.</span></div></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Assim sendo, não estando estas cartas de Garrett nos píncaros da epistolografia portuguesa, são de enorme relevância biográfica. E mais do que isso: iluminam alguns poemas de </span><i style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;">Folhas Caídas,</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;"> de um modo que não se suspeitava. Só por isso a sua edição teve toda a razão de ser.</span></div></span></blockquote><p style="text-align: left;"></p><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: left;"><span style="color: #333333;"><br /></span></div><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: inherit;">Almeida Garrett, </span><i style="font-family: inherit;">Cartas de Amor à Viscondessa da Luz</i><span style="color: #333333; font-family: inherit;">, edição de Sérgio Nazar David, Vila Nova de Fmalicão, Edições Quasi, 2007. (<a href="https://abencerragem.blogspot.com/2014/11/estados-emocionais-alterados.html" target="_blank">28-XI-2014</a>)</span></div></span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-13272457096804673152022-02-10T13:16:00.007+00:002022-08-06T22:33:04.664+01:00Almeida Garrett (1799-1854)<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcYJpDHHud25Ed0j9Y_8I9ag6OzzBeNSkoEsuyTK9CDIVmm-NoHxwYLTFp7Dja2fpcJHybHmb-tEjQeqVUUqd71SKCkixy9oKitdYdxtptzsFuIQ0tSz5UHzTK7Kchc0Zd4pQ7sIC3ZHwsPojSLhn-Wiyy86QIAzu13Sqp6M1Ewq1NaPrzwEnk8VJd=s400" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="320" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcYJpDHHud25Ed0j9Y_8I9ag6OzzBeNSkoEsuyTK9CDIVmm-NoHxwYLTFp7Dja2fpcJHybHmb-tEjQeqVUUqd71SKCkixy9oKitdYdxtptzsFuIQ0tSz5UHzTK7Kchc0Zd4pQ7sIC3ZHwsPojSLhn-Wiyy86QIAzu13Sqp6M1Ewq1NaPrzwEnk8VJd=w160-h200" width="160" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;">É não só o introdutor do Romantismo em Portugal, como o renovador da literatura portuguesa. Uma vida rica, uma personalidade fortemente instável. Garrett era um dândi e um snob, mas um tipo de valor. Lutou pela liberdade de armas na mão, sofreu o exílio; e quando conheceu o poder, usou como poucos em benefício da comunidade. E sofreu como um cão a paixão e o ciúme. </p><p style="text-align: justify;">João Baptista da Silva Leitão de<b> Almeida Garrett </b>(Porto, Rua do Calvário, n.º 18-20, 4-II-1799 - Lisboa, Campo de Ourique, actual Rua Saraiva de Carvalho, 9-XII-1854). P<span style="text-align: left;">oeta, dramaturgo, romancista, publicista, epistológrafo, etnógrafo.</span></p><p style="text-align: justify;">Bibliografia: <i>Ode à Liberdade </i>(1820); <i> O Retrato de Vénus </i>e <i>O Dia 24 de Agosto </i>(1821); <i>Catão</i>; <i>O Corcunda</i> (1922) <i>Camões </i>(1825); <i>D. Branca</i>. (1826); <i>Adozinha </i>(1828); <i>Lírica de João Mínimo </i>e <i>Da Educação </i>(1929); <i>Portugal na Balança da Europa </i>(1830); <i>Romanceiro vol. I. </i>(1843); <i>Frei Luís de Sousa </i>(1844);<i> Flores sem Fruto </i>(1845); <i>Viagens na Minha Terra</i>; <i>Filipa de Vilhena </i>(1846); <i>A Sobrinha do Marquês </i>(1848); <i>O Arco de Santana </i>(vol. II) (1850);<i> </i> <i>Romanceiro</i>, vols. II e III (1851); <i>Folhas Caídas </i>(1853). Póstumos: <i>O Roubo das Sabinas </i>(1968).</p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><u>O ano de 1799</u></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><b>Contexto</b>: </span><span style="text-align: left;">Portugal integra a Segunda Coligação contra a França, organizada por William Pitt. Além da Inglaterra, inclui a Áustria, o reino de Nápoles, a Rússia e a Turquia. </span><span style="text-align: left;">Por incapacidade da rainha, D. Maria I, o príncipe D. João assume a regência do reino.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><b>Confronto:</b> Napoleão, derrotado por Nelson na batalha naval de Abukir, regressa do Egipto. No fim do ano, o golpe do 18 de Brumário (9 de Novembro) afasta o Directório; Bonaparte primeiro-cônsul.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Livros<b>:</b></span><i style="text-align: left;"> </i><b style="text-align: left;">Manuel Maria Barbosa du Bocage</b><span style="text-align: left;">, </span><i style="text-align: left;">Rimas</i><span style="text-align: left;">, t. II; </span><b style="text-align: left;">Tomás António Gonzaga</b><span style="text-align: left;">, </span><i style="text-align: left;">Marília de Dirceu</i><span style="text-align: left;">.</span><span style="text-align: left;">, parte II.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Confronto<i> </i> <b>Friedrich Schleiermacher</b>, <i>Discurso sobre as Religiões</i>; </span><span style="text-align: left;"><b>Friedrich Schiller</b>,</span><span style="text-align: left;"> </span><i style="text-align: left;">A Morte de Walden; </i><span style="text-align: left;"><b>J. G. von Herder,</b> <i>Metacrítica</i>;</span><span style="text-align: left;"> <b>James Mackintosh</b>, </span><i style="text-align: left;">Discurso sobre o Estudo da Lei da Natureza e das Nações</i><span style="text-align: left;">; </span><span style="text-align: left;"><b> </b></span><span style="text-align: left;"><b> Mungo Park</b>, </span><i style="text-align: left;">Viagens no Interior de África</i><span style="text-align: left;">; </span><span style="background-color: white; color: #202122; font-family: inherit; text-align: left;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #202122; font-family: inherit; text-align: left;">Pintura:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #202122; font-family: inherit; text-align: left;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"></span></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-family: "Times New Roman"; letter-spacing: normal; margin-left: auto; margin-right: auto; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-transform: none; widows: 2; word-spacing: 0px;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK-TpOCBqoNkXfpiZQPxP2QTgSkJuaYMMyTZwzHXTsaVwVFYj8nkSFtmB5WoTXYE_FrUxn71Ol-sKDdVmmVnB3qWE3CM6v7L7sQjuFACj4t7RjxcM5zQQhnTFGcs6IlzrqMoZ550kBSgp-ki4J7yid_WsM0h2Zwzj4R7YfT9YsiN-3EHQJjlKP0wd2=s1155" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1155" data-original-width="729" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiK-TpOCBqoNkXfpiZQPxP2QTgSkJuaYMMyTZwzHXTsaVwVFYj8nkSFtmB5WoTXYE_FrUxn71Ol-sKDdVmmVnB3qWE3CM6v7L7sQjuFACj4t7RjxcM5zQQhnTFGcs6IlzrqMoZ550kBSgp-ki4J7yid_WsM0h2Zwzj4R7YfT9YsiN-3EHQJjlKP0wd2=w202-h320" style="cursor: move;" width="202" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vieira Portuenese, <i>Nossa Senhora da Conceição<br /><br /></i><span style="text-align: left;">confronto: <br /></span><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhmw_QIc1ZQiAl0qDZ6RFnLjE3-AWPAjscNHvXkuoHi6GWoOb4bdjbMhNXnb81sgCdFZ-K18Q4ps4ChudR5jcuToBnpqJNNDqSqi3O3hirHhUZ_qeQtzcooOtPjrG43lsj6pHms7Gwbe0kCAF6uTtBvlnUj-QIoDqf1qulID8cum8zZym84gyp6DEqb=s883" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="883" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhmw_QIc1ZQiAl0qDZ6RFnLjE3-AWPAjscNHvXkuoHi6GWoOb4bdjbMhNXnb81sgCdFZ-K18Q4ps4ChudR5jcuToBnpqJNNDqSqi3O3hirHhUZ_qeQtzcooOtPjrG43lsj6pHms7Gwbe0kCAF6uTtBvlnUj-QIoDqf1qulID8cum8zZym84gyp6DEqb=w217-h320" width="217" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Goya, <i>Os Caprichos</i></td></tr></tbody></table><br /></td></tr></tbody></table><p></p><p style="text-align: left;">Música:</p><div><b>Marcos Portugal</b>,<span style="font-family: inherit;"> <i style="background-color: white; color: #202122;">La pazza giornata ovvero Il matrimonio di Figaro </i><span style="background-color: white; color: #202122;">(libreto: Geteano Rossi).</span></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #202122;"><br /></span></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #202122;"> confronto: <b>Ludwig van Beethoven</b>, Sonata #8, "Patética"</span></span></div><div><br /></div><div><br /></div><iframe frameborder="0" height="170" src="https://youtube.com/embed/M_124D_7KoU" width="280"></iframe><p style="text-align: left;">E ainda<b>: </b>Descoberta da Pedra de Roseta, a partir da qual se decifrará a escrita hieroglífica. Alessandro Volta descobre a pilha.</p><p style="text-align: left;"><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-51909366736219486132022-02-08T13:03:00.000+00:002022-02-08T15:59:24.799+00:001825: CAMÕES (Almeida Garrett)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-weight: bold; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEggx64WT2zF3Ia6SMAm9GzHOV_6wrveosvHV0q9UaWwGJshDX6xdepdFufcBx_LQr7y4vJEc4GtY5qcGVkSD6Wa3UDe3MeDxBNbXMpimnACWlhkgCto2BI-PHt6_RxsrGkIapPVAAEPgFHmBNIg3OJ9Y-YzDkBt5uUFbTTtt3EdICyEY-scrtvRgzMY=s397" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img border="0" data-original-height="397" data-original-width="227" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEggx64WT2zF3Ia6SMAm9GzHOV_6wrveosvHV0q9UaWwGJshDX6xdepdFufcBx_LQr7y4vJEc4GtY5qcGVkSD6Wa3UDe3MeDxBNbXMpimnACWlhkgCto2BI-PHt6_RxsrGkIapPVAAEPgFHmBNIg3OJ9Y-YzDkBt5uUFbTTtt3EdICyEY-scrtvRgzMY=w114-h200" width="114" /></span></a></div><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;"><b style="font-weight: bold;"><span style="font-size: medium;">Almeida Garrett</span></b><span style="font-size: medium;"><b style="font-weight: bold;"> (</b>4-II-1799 - 9-XII-1854) -<b style="font-weight: bold;"> </b><i style="font-weight: bold;">Camões</i>, Paris, Na Livraria Nacional e Estrangeira (poema).<b style="font-weight: bold;"> </b></span></div><div style="text-align: justify;"><b style="text-align: left;">E ainda:</b></div><div style="text-align: justify;"><b style="text-align: left;">Confronto: </b><span style="text-align: left;">Walter Scott, <i>O Talismã</i>. Alessandro Manzoni, <i>Os Noivos</i>. </span><span style="text-align: left;">Lamennais,</span><span style="text-align: left;"> </span><i style="text-align: left;">Da Religião -- Considerada nas Suas Relações Política e Civil</i><span style="text-align: left;">.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Nasce Camilo Castelo Branco.</span></div></span><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b style="font-weight: bold;"><br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b style="font-weight: bold;">Contexto. </b>Portugal reconhece a independência do Brasil. Fundação das Escolas Régias de Cirurgia de Lisboa e Porto. ( JS). "Dois vapores entram ao serviço na carreira marítima entre Lisboa e Porto» (AMP). </span></div><div style="text-align: justify;"><b>Confronto.</b> Inglaterra: Lei laboral impede que menores de dezasseis anos trabalham mais de doze horas diárias, excluindo as refeições; é inaugurada a primeira linha férrea pública em Inglaterra, entre Darlington e Stockton-on-Tees. Rússia: revolta <i>dezembrista</i> (pró-constitucional). Bolívia separa-se do Peru e Uruguai do Brasil; este declara guerra à Argentina.</div></span><p></p><p><br /></p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-36990378441094665682021-10-08T18:32:00.003+01:002021-11-12T17:39:21.127+00:00Bib. Garrett, segundo Alberto Osório de Vasconcelos <p><b style="color: #333333; text-align: justify;"></b></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: large; text-align: center;"><b style="color: #333333; text-align: justify;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-5sGL12AA2Y0/YWBI5Ffxv8I/AAAAAAAAXpA/9t4ia846rVUqTIX0jP9xe7N98RHkfKv2QCLcBGAsYHQ/s560/AlbertoOsorioDeVasconcelos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="398" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-5sGL12AA2Y0/YWBI5Ffxv8I/AAAAAAAAXpA/9t4ia846rVUqTIX0jP9xe7N98RHkfKv2QCLcBGAsYHQ/w142-h200/AlbertoOsorioDeVasconcelos.jpg" width="142" /></a></b></div><b style="color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">«</span></b><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">O seu testamento é glorioso. Deixou-nos um famoso legado, composto de obras primas. </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Mérope'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"> e </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Catão'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, reminiscências de Voltaire, temperadas pelo génio peculiar do autor; o </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Parnaso Lusitano'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, modelo de selecção; a </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'D. Branca'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, episódio épico incomparável; </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Camões'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, elegia sublime; o </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Romanceiro'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, repositório de esplendores sem reproches; as </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Viagens na minha terra'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, desespero de folhetinistas e romancistas; </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Um Auto de Gil Vicente'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, áureo reflexo de uma época memorável; o </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Alfageme'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, tão português, tão nosso, que nos obriga a cantar com Froilão e a combater com Nun'Álvares; o </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Frei Luís de Sousa'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, drama de primeira ordem, modelo eterno do género; o </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Arco de Sant'Ana'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">, tão cheio de alusões finíssimas; e, aos cinquenta anos, admirai berberes, curvai-vos moçárabes, batei nos peitos rapazes-velhos, aos cinquenta anos Garrett, sempre juvenil, escreveu de um jacto as </span><em style="color: #333333; text-align: justify;">'Folhas caídas'</em><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;">!»</span><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"> </span></span><p></p><p><span style="font-size: medium;"><i style="color: #333333; text-align: justify;">Garrett, Castilho, Herculano e a Escola Coimbrã</i><span style="color: #333333; text-align: justify;">.</span></span></p><p><span style="font-size: medium;"><span style="color: #333333; text-align: justify;">(<a href="http://www.poeteiro.com/2017/11/a-torre-derrocada-conto-de-alberto.html" target="_blank">foto</a>)</span></span></p><div align="justify" style="background-color: white; color: #333333; font-size: large; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-family: inherit;"><b> </b></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-87656252486145709742021-05-13T13:29:00.004+01:002021-12-15T17:33:58.268+00:00Alexandre Herculano: 1844, o ano de EURICO O PRESBÍTERO<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-zwQCt-GR6HI/YJli7dgT8EI/AAAAAAAAWPo/Xstyoy6Q3FEpIRjUq2Wc8OY822Kjr8svACLcBGAsYHQ/s224/AlexandreHerculano-OMonasticon-EuricoOPresbitero-1844.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="224" data-original-width="140" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-zwQCt-GR6HI/YJli7dgT8EI/AAAAAAAAWPo/Xstyoy6Q3FEpIRjUq2Wc8OY822Kjr8svACLcBGAsYHQ/w200-h320/AlexandreHerculano-OMonasticon-EuricoOPresbitero-1844.jpg" width="200" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b>Alexandre Herculano</b><span>, </span><i>Eurico o Presbítero</i><span>, Lisboa, Imprensa Nacional, 1944.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-wpUxKpqBVWQ/YJ1E3kDJKQI/AAAAAAAAWSI/tNCLUH7s6zQFimmUs4NfDYxeIjDOr0r1ACLcBGAsYHQ/s2048/Turner_-_Rain%252C_Steam_and_Speed_-_National_Gallery_file.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1529" data-original-width="2048" src="https://1.bp.blogspot.com/-wpUxKpqBVWQ/YJ1E3kDJKQI/AAAAAAAAWSI/tNCLUH7s6zQFimmUs4NfDYxeIjDOr0r1ACLcBGAsYHQ/s320/Turner_-_Rain%252C_Steam_and_Speed_-_National_Gallery_file.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Turner: <i>Chuva, Vapor e Velocidade</i></td></tr></tbody></table><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><u>Texto.</u> </span><span><b>Almeida Garrett</b>, </span><i>Teatro</i><span>. <b>António Feliciano de Castilho</b>, </span><i>Escavações Poéticas</i><span>.</span><i> </i><span> <b>António Xavier Rodrigues Cordeiro</b> dirige a revista poética <i>O Trovador </i>(Coimbra).</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><span><u>Confronto. </u><b>Alexandre Dumas</b>, <i>O Conde de Monte Cristo</i> e <i>Os Três Mosqueteiros</i>. <b>Cesare Balbo</b>, <i>As Esperanças de Itália</i>.<b> Charles Dickens</b>, <i>Martin Chuzzlewit</i>. </span></span><b>Friedrich Engels</b><span>, </span><i>A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra</i><span>.</span><span><span> </span><span><b>Hans Christian Andersen</b>, <i>Novos Contos de Fadas</i>. <b>José Zorrilla</b>, <i>D. João Tenório</i>. </span></span><b>Karl Marx</b><span>, </span><i>Sobre a Questão Judaica</i><span>.</span><span><span> <b>Max Stirner</b>, <i>O Único e a Sua Propriedade</i>.</span><span> </span><b>Soren Kierkegaard</b><span>. </span><i>O Conceito de Angústia</i><span>. </span></span><b>W. M. Thakeray</b><span>, </span><i>As Memórias de Barry Lyndon</i><span>.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span><u>Contexto</u><b>.</b><span> Revolta setembrista, com liderança política de <b>José Estêvão</b>, contra o governo de</span><b> Costa Cabral </b><span>(Torres Novas, 4-II). Guerra Franco-Marroquina, bombardeamento de Tânger (1-VIII) Inaugurada a primeira linha de telégrafo, ligando Baltimore e Washington.</span></span></span></p><p style="text-align: justify;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-rTkkjxhJ2r4/YJ1FVjtD60I/AAAAAAAAWSU/cUH0cCzYC68o-7fiuC0FSeITpfFPbvInQCLcBGAsYHQ/s1500/Delacroix-Marc_Aur%25C3%25A8le-MBA-Lyon-1844.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1173" data-original-width="1500" height="250" src="https://1.bp.blogspot.com/-rTkkjxhJ2r4/YJ1FVjtD60I/AAAAAAAAWSU/cUH0cCzYC68o-7fiuC0FSeITpfFPbvInQCLcBGAsYHQ/w320-h250/Delacroix-Marc_Aur%25C3%25A8le-MBA-Lyon-1844.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Delacroix, <i>Últimas Palavras do Imperador Marco Aurélio</i></td></tr></tbody></table><p></p><p style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><u><br /></u></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;"><u> (em construção)</u></span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-19144104698788641302021-05-10T02:14:00.009+01:002022-02-17T12:31:14.607+00:00Almeida Garrett nos dicionários - DICIONÁRIO UNIVERSAL DE LITERATURA<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjCQw54x8RzDhrs7FW6QTCnxGE21VPq2QqP5zrTV2OEtpx88hJy_C_QzKXlFWVUL33cEgV-1XnxoOHILSTYeB82x5eumcY-ysVd-DfUMCT7i2rpx-4hF8HxILeE26BkXApGk4G5qJ1fBXZOKizDDUbB7zK8BkobqrFxVGJ2yKqNnf327vYph8sbXSnx=s386" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="386" data-original-width="214" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjCQw54x8RzDhrs7FW6QTCnxGE21VPq2QqP5zrTV2OEtpx88hJy_C_QzKXlFWVUL33cEgV-1XnxoOHILSTYeB82x5eumcY-ysVd-DfUMCT7i2rpx-4hF8HxILeE26BkXApGk4G5qJ1fBXZOKizDDUbB7zK8BkobqrFxVGJ2yKqNnf327vYph8sbXSnx=w111-h200" width="111" /></a></div><br />Henrique Perdigão</b>. </span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Uma síntese de</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> na 2.ª edição do seu insano </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Dicionário Universal de Literatura</em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">(1940): «[...] simples, acessível, eficaz, faltando, no excerto, as</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Folhas Caídas</em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">, talvez a única obra poética de Garrett que sobreviveu ao tempo: </span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">«[...] Garrett, como poeta, cantou especialmente o amor da Pátria e da liberdade; esta inspirou-lhe o</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Catão </em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">[...]; aquele inspirou-lhe o</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><i style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Camões</i><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">, o melhor, talvez, dos seus trabalhos e a primeira manifestação da poesia romântica em Portugal [...] Como dramaturgo, só, também, de assuntos nacionais se ocupou, criando com</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Um Auto de Gil </em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Vicente,</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Frei Luís de Sousa </em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">e outras peças a verdadeira escola dramática. Como prosador, bastariam as páginas que deixou no</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Arco de Sant'Ana </em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">e nas</span><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;"> </span><em style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">Viagens na Minha Terra </em><span style="color: #333333; font-family: inherit; font-size: large; text-align: justify;">para que o seu nome se impusesse à admiração unânime do País, onde não foi só o grande reformador das letras, mas o fundador do teatro nacional. [...]» (<i>DUL</i>, 243-245)</span></div><div style="text-align: left;"><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-26299092978930717332021-05-09T21:13:00.007+01:002022-02-08T17:17:45.527+00:00Almeida Garrett: notas avulsas<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-TY1XZ5BtHNQ/YJgxhmibSCI/AAAAAAAAWPQ/O4H-tybcvDsDyNu9F-pPkBPgW274hxa2gCLcBGAsYHQ/s300/portalhistoria-garrett.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="239" src="https://1.bp.blogspot.com/-TY1XZ5BtHNQ/YJgxhmibSCI/AAAAAAAAWPQ/O4H-tybcvDsDyNu9F-pPkBPgW274hxa2gCLcBGAsYHQ/s0/portalhistoria-garrett.jpg" /></a></div><br /><span style="font-size: medium;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white;"><b>1. Garrett e este miserável país. </b></span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif;">A casa onde morreu Almeida Garrett está em risco, por abandono e especulação. Somos um país de alarves, ainda atiramos lixo pela janela do carro, não temos civilização para respeitar a memória espiritual de quem foi enorme no seu tempo, apesar de todas as humaníssimas fraquezas. Somos um país de lepes, canalha de mão estendida a quem encheram os bolsos sem antes ensinarem a mastigar de boca fechada. O resultado é esta vileza. Demolir aquilo é como arrasar a casa de Dickens em Londres, onde ele só viveu escassos meses, mas está lá, para ser visitada; é como destruir a casa de Balzac em Paris, onde o homem viveu com um nome falso, e mesmo assim não se livrava dos credores, e também lá está. Mas é pior, muito pior para nós, periféricos, provincianos, tão atrasados que até envergonha. Eles, ingleses e franceses têm tanto, e tantas casas, de Dickens, de Balzac, de Thackeray, de Hugo, de... E nós temos tão pouco...<a href="https://abencerragem.blogspot.com/2005/03/escrever-na-areia-garrett-e-este.html" target="_blank"> (21-III-2005)</a></span></span></p><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;"><b><br /></b></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;"><b>2. O cânone poético de Cascais.</b> </span></span><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left;">Cascais passou a ser diferente quando Almeida Garrett (1799-1854) publicou</span><span style="text-align: left;"> </span><em style="text-align: left;">Folhas Caídas</em><span style="text-align: left;"> </span><span style="text-align: left;">(1853). O poema «Cascais», poderosa expressão lírica do romantismo, pela intemperança, volubilidade, transgressão que encerra, veio acrescentar algo ao património cultural cascaense. Não vemos Cascais do mesmo modo depois de lermos este poema, pois a nossa relação com o espaço será inevitavelmente condicionada por ele. A composição tem assim uma dimensão ontológica que altera a percepção, a vivência, em suma a sensibilidade de quantos a lêem em face duma realidade geológica com milhões de anos, até então apreendida sempre da mesma forma pelo homem -- ou, mais rigorosamente, nunca uma estesia semelhante fora manifestada e</span><span style="text-align: left;"> </span><em style="text-align: left;">comunicada</em><span style="text-align: left;"> </span><span style="text-align: left;">desta maneira: «</span><strong style="text-align: left;">Inda ali acaba a Terra, / Mas já o céu não começa; / Que aquela visão da serra / Sumiu-se na treva espessa, / E deixou nua a bruteza / Dessa agreste natureza.</strong><span style="text-align: left;">» (16) Garrett, foi, portanto, uma espécie de patrono literário de Cascais, um autor citado sempre que se pretendia mostrar como «estes sítios» (outro poema de</span><span style="text-align: left;"> </span><em style="text-align: left;">Folhas Caídas </em><span style="text-align: left;">sobre o espaço cascaense) haviam sido um estímulo para um grande escritor.</span></span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">Em meados so século XX, o poeta moçárabe (17) Abu Zayd 'Abd ar-Rahman ibn Muqãna (al-Qabdaqi al-Lixbuni), século XI, natural do lugar de Alqabdaq, surge como autor a (re)descobrir. Para além do interesse histórico-cultural da sua poesia -- em que encontramos «uma das mais antigas referências literárias aos moinhos de vento, situados na Europa» (18) -- trata-se também de um excelente poeta do Andaluz. Com a inauguração do monumento que o evoca, da autoria do escultor António Duarte (autor também da estátua de D. Pedro I, no coração da vila), Ibn Muqãna (ou Mucana) foi talvez o primeiro poeta -- em especial com o conhecido «Poema de Alcabideche», objecto de várias versões -- a ser incorporado na bagagem cultural do grande público, mercê também das disciplinas escolares orientadas para as realidades locais que vigoram nos programas de há algumas décadas para cá.</span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">Em meados do anos 60 Cascais tinha dois <em>ex-libris </em>poéticos que ultrapassavam a condição de meras referências literárias, sendo antes dois textos canónicos absolutamente definitivos e adquiridos pela população estudantil e de média formação cultural.</span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;"></span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">Notas:</span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">(16) Almeida GARRETT, <em>Folhas Caídas</em>, Mem martins, Publicações Europa-América, s.d. : 56.</span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">(17) María de Jesus RUBIERA MATA, <em>Ibn Muqãna de Alcabideche</em>, 2.ª edição, Cascais, Associação Cultural de Cascais, 1996 : 7-8.</span></div><div align="justify"><span style="font-size: medium;">(18) Fausto do Amaral de FIGUEIREDO, «Abú Zaíde Ibne Mucana», <em>Cascais e os Seus Lugares</em>, n.º 20, Estoril, Junta de Turismo da Costa do Sol, 1966 : 16. <a href="https://cascais-raa.blogspot.com/2007/11/sob-o-signo-do-drago-da-crtica_18.html" target="_blank">(19-XI-2007)</a></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-2361400986819204252021-04-20T13:13:00.003+01:002021-07-12T11:55:32.658+01:00Ruben A.: A TORRE DA BARBELA (1964)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-N-eWaQbNfdY/YH2mVQCCukI/AAAAAAAAWCk/TZ6yI_TZTZwNNdATDfrcOngmiGqUglhZgCLcBGAsYHQ/s286/RubenA.-ATorreDaBarbela-1964.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="286" data-original-width="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-N-eWaQbNfdY/YH2mVQCCukI/AAAAAAAAWCk/TZ6yI_TZTZwNNdATDfrcOngmiGqUglhZgCLcBGAsYHQ/s16000/RubenA.-ATorreDaBarbela-1964.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333; font-family: inherit;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333; font-family: inherit; font-size: medium;"><div style="color: black;"><span><b>1. Do desconchavo. </b>A esquizofrenia entre o que fomos e o que éramos e tentámos ser, a idolatria paralisante.</span></div><div style="color: black;"><br /></div></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333;"><span style="color: black; font-family: inherit; font-size: medium;"><b>2. Um país de mortos-vivos. </b>Picaresco<b> </b>e fantástico, <i>A Torre da Barbela</i>, de Ruben A., tem uma originalidade que lhe dá um lugar único no panorama romanesco português, tanto quanto me é dado saber. Calculo que a reacção no ano em que foi publicado (1964) deva ter oscilado entre o estranhamento e a indiferença, que é o que sucede a tudo que esteja fora dos cânones. Nem era romance psicológico à <i>presença</i>, nem neo-realista e muito menos procurava imitar os franceses do <i>nouveau roman</i>. Embora não me pareça a obra-prima que alguns nela vêem, tem o atractivo de ser iconoclasta para com o romance português da época, e é-o com humor. E o autor, recorde-se, além de escritor desalinhado do <i>mainstream</i>, era também historiador circunspecto, nomeadamente do século XIX, sabendo muito bem o que estava a fazer -- literária e até, digamos, politicamente.<br />Absolutamente marcante, portanto. O que esperar de uma catrefa de personagens de várias épocas que coexistem no mesmo espaço e interagem entre si? O guia burgesso e comerciante para turista entreter e, se possível, enrolar, situa-nos no espaço e no tempo; mas logo aparece um Menino Sancho, ser misterioso e disforme, e o lendário Cavaleiro da Barbela: «<b>De cada túmulo, de cada sarcófago ou fosso anónimo eles iam saindo, meio estonteados pelos séculos da História</b>»...<br />Leio aqui o Portugal profundo de então: um país de mortos-vivos.<br /></span></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333;"><span style="color: black; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><span><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333;"><span style="color: black;"><b>3. Cap. I. - </b></span></span></span><b>O <i>incipit</i>. «</b><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333;">Sempre que do portão se avizinhava mero turista ou descobridor de mistérios e o sino ficava longo tempo a retinir pela ribeira, ouviam-se pesados bate-lajedos de caseiro em movimento.»</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333;"><b>4. Entre digestões e Salazar. </b></span><span style="background-color: white; color: #333333;">Ainda a procissão ia no adro, ou melhor: ainda era de dia -- o período mais desinteressante na velha Torre da Barbela --, os poucos visitantes "</span><b style="background-color: white; color: #333333;">do costume</b><span style="background-color: white; color: #333333;">" iniciavam a ascenção dos seus 32 metros, e já o narrador pusera o caseiro-guia, muito despachado nas suas "</span><b style="background-color: white; color: #333333;">lérias de almanaque</b><span style="background-color: white; color: #333333;">", em "</span><b style="background-color: white; color: #333333;">ascrições latinas</b><span style="background-color: white; color: #333333;">", pedras de "</span><b style="background-color: white; color: #333333;">prumitiba</b><span style="background-color: white; color: #333333;">" ou mortes por "</span><b style="background-color: white; color: #333333;">adigestão</b><span style="background-color: white; color: #333333;">" para impressionar os excursionistas, que rapidamente se desvanecerão, sem outro interesse na narrativa que não fosse o de pontuar a vetustez e decorrente interesse patrimonial do edifício -- como seria de esperar dum grupo de de excursionistas.</span></span></div><div style="background-color: white; border-image: none; border: currentcolor; clear: both; color: #333333; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">O registo é cómico desde o início: a fila de visitantes a caminho do alto é comparada com uma espécie de lombriga subindo por um enorme tubo digestivo, o próprio monumento:</span></div><div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">«<b>A bicha dentro do esófago da Torre contava para si os martírios passados naquela ascensão; uns davam <em> ah has</em> de alívio, outros comparavam com a escadaria do Bom Jesus do Monte, com a Torre dos Clérigos e ainda recordavam a subida ao Santuário de Lamego.</b>»<em> </em>(p.8)</span></div><div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">Ao tom farsante, imagens do remanso bucólico do país: o rio Lima, «<b>calão e adormecido</b>», que «<b>nem sabia de onde vinha</b>»; «<b>saudades da Índia à deriva num mar vegetal</b>», Natureza «a queixar-se do reumático», quotidiano vegetativo.</span></div><div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;"><span>"<b>O dono actual, burgesso</b>" deste "<b>monumento nacional</b>" deixava-o ao abandono: «<b>E talvez fosse melhor assim. Não se industrializava nem se ofendia o sagrado das pedras, testemunhas de feitos extraordinários.</b>» (p.10) O dono da Torre que evoca o Portugal da época -- vasta paisagem para lá de Lisboa -- e o dono dele, Salazar</span>.</span></div><div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; line-height: 20.79px; text-align: right;"><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(continua)</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="background-color: #fefdfa; color: #333333; font-size: large;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-L454oRrQTo4/YH6s6-_UhtI/AAAAAAAAWDk/QVsfDPajIVc2UFnRS17DLtGGIX9U-lpGACLcBGAsYHQ/s1600/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="977" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-L454oRrQTo4/YH6s6-_UhtI/AAAAAAAAWDk/QVsfDPajIVc2UFnRS17DLtGGIX9U-lpGACLcBGAsYHQ/s320/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" /></a></div><br /></div><p> </p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-49383861552249362342021-04-19T13:20:00.001+01:002021-07-12T11:56:07.986+01:00Raul Brandão: HÚMUS, ternura e lágrimas<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-HbclKLdt0aY/YH1qr0HicvI/AAAAAAAAWBM/NdqbTr3YTeEcKwK1udv4vknnfqqej7J4wCLcBGAsYHQ/s291/RaulBrandao-Humus-1917.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="291" data-original-width="173" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-HbclKLdt0aY/YH1qr0HicvI/AAAAAAAAWBM/NdqbTr3YTeEcKwK1udv4vknnfqqej7J4wCLcBGAsYHQ/w119-h200/RaulBrandao-Humus-1917.jpg" width="119" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"><br /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif;">Dizer que o </span><i style="color: #333333; font-family: Georgia, serif;">Húmus</i><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif;"> (1917) é um livro único e ser único Raul Brandão na nossa literatura é uma banalidade que, por sê-lo, não deixa de ser verdadeira. Todos os livros que li dele são enormes, à imagem da grande estatura e da densidade do seu autor.</span></span><p></p><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 20.7969px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">«A vila», o microcosmos que é o mundo, a vida que se nos escapa por entre as mãos, enquanto vivemos ninharias, enquanto alguns de nós a vêem fugir como numa peneira e a maioria, tendo essa percepção instintiva e animal, nem pensa nisso, entregando a insignificância da sua passagem pela existência à ganância, à convenção, à emulação até à cova de um cemitério.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 20.7969px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A vida é demasiado grande e nós incompatíveis com essa grandeza. «Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste...» E onde estão as Teles e as Sousas, que se odeiam, as Fonsecas e as Albergarias, Donas Engrácia e Biblioteca, Restituta e Procópia, o Elias de Melo e o Melias de Melo, podemos substituir os seus nomes pelos da maior parte de nós. «O nada a espera e a D. Procópia a abrir a boca com sono, como se não tivesse diante de si a eternidade para dormir». E ainda os outros, paisagem como o Gabiru ou adereços como a criada Joana, vivendo a vida dos outros, como se para outra coisa não tivesse vindo ao mundo: «Sempre a comparei à macieira do quintal: é inocente e útil e não ocupa lugar, e não vem Inverno que não dê ternura, nem Inverno sem produzir maçãs.»</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 20.7969px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Raul Brandão é isto: ternura e lágrimas.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-25724372337221751172021-03-25T17:44:00.001+00:002021-03-25T17:44:47.407+00:00Manuel Ribeiro (1878-1941): anarquista, comunista, católico -- romancista<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-cs4Akf3a0q4/YA7-KxzsxrI/AAAAAAAAVCo/kkugqMKnlmAWTyllDPGxNozDuYX6eMEdgCLcBGAsYHQ/s232/ManuelRibeiro.tif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="232" data-original-width="167" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-cs4Akf3a0q4/YA7-KxzsxrI/AAAAAAAAVCo/kkugqMKnlmAWTyllDPGxNozDuYX6eMEdgCLcBGAsYHQ/w230-h320/ManuelRibeiro.tif" width="230" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b>Manuel </b>António <b>Ribeiro</b> (Albernoa, Beja, 13.XII.1878 -- Lisboa, 27.XI.1941).<p></p><p><b>Filiação</b>: pai, sapateiro.</p><p><b>Formação : </b></p><p><b>Relações e descendência:</b></p><p><b>Os livros:<br /></b> </p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-62423777774523173272021-03-21T20:48:00.001+00:002022-09-21T15:13:50.302+01:00Carlos de Oliveira: UMA ABELHA NA CHUVA (1953)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-_oFvCMd1CNc/WnaAoWJRtVI/AAAAAAAAI38/f4S6Z2ZWkEsl41bAKmq9nn4ioCREXGeSgCLcBGAs/s1600/CarlosDeOliveira-UmaAbelhaNaChuva-1953.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="990" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-_oFvCMd1CNc/WnaAoWJRtVI/AAAAAAAAI38/f4S6Z2ZWkEsl41bAKmq9nn4ioCREXGeSgCLcBGAs/s200/CarlosDeOliveira-UmaAbelhaNaChuva-1953.jpg" width="123" /></a></div>
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
A tarde é chuvosa, ventosa e outonal, e <b>«um certo viajante», </b>pesadão e cansado de se arrastar pelos caminhos enlameados,<b> </b>vindo da aldeia do Montouro, entra em Corgos, onde é recebido por luz a condizer com o tempo que faz: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: medium;">«Havia sobre a vila, ao redor de todo o horizonte, um halo de luz branca que parecia o rebordo duma grande concha escurecendo gradualmente para o centro até se condensar num côncavo alto e tempestuoso. O vento ia descoalhando as nuvens e abria caminho à grossa chuvada que a tarde esperava.» </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Carlos de Oliveira, <i>Uma Abelha na Chuva </i>(1953), cap. I; texto da 22.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 1984</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-46531173775934720012021-03-21T20:41:00.001+00:002021-07-12T11:58:04.396+01:00Abel Botelho, O BARÃO DE LAVOS (1891)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-W0dBRCASa0E/Wk9mAAb4WgI/AAAAAAAAIcA/gA7fI1qIJ2Evn74HyNhWHscdnZlCkQjgACLcBGAs/s1600/AbelBotelho-OBaraoDeLavos.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1011" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-W0dBRCASa0E/Wk9mAAb4WgI/AAAAAAAAIcA/gA7fI1qIJ2Evn74HyNhWHscdnZlCkQjgACLcBGAs/s200/AbelBotelho-OBaraoDeLavos.jpg" width="126" /></a></div>
<span id="freeTextreview2203157899" style="font-size: medium;">Publicado em 1891, tem, naturalmente, uma abordagem datada da homossexualidade, entendida pelo modo naturalista da degenerescência biológica (consaguinidades e dissoluções várias) e comportamentos desviantes propiciados pelas obsolescências sociais (por exemplo, a educação ministrada em seminário jesuíta).<br />No entanto, para além do lugar-comum do preconceito e do estado da arte da sexologia, <em>O Barão de Lavos</em> é sem dúvida um notável exercício de perscrutação psicológica ensaiada na personagem D. Sebastião Pires de Castro e Noronha, o titular do romance.<br />Romance que tem um pouco d'<em>O Primo Basílio</em>, embora esteja simultaneamente aquém e para além dele. Para o pior e para o melhor, Abel Botelho não é Eça de Queirós: Militão compete com Acácio, mas não lhe ganha em estupidez; Doroteia emula Juliana, mas não lhe alcança a malignidade; Elvira, a baronesa, menos cândida que Luísa, por isso mais desce e melhor se safa.<br />Nada no <em>Primo</em>, porém , bate a execração atingida pelo Barão. E se a amizade em alto grau também está presente no romance queirosiano (Sebastião, amigo de Jorge), no romance de Botelho atinge um alto significado ético, nas figuras de Paradela e do Marquês de Torredeita, não faltando ao Barão de Lavos, mesmo quando este chafurda na maior abjecção.<br />Quanto ao estilo, apesar da pecha de escola naturalista da hiperdescrição, o livro não é daqueles em que o autor mais abusa e, em compensação, exibe passagens de grande beleza estilística e conceptual.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-20663663005077476132021-03-21T20:36:00.000+00:002022-09-21T15:14:09.451+01:00entre digestões e Salazar - A TORRE DA BARBELA (1964)<div style="background-color: white; border-image: none; border: currentcolor; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; font-size: 13px; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-7tCAZsakIHY/Wk9gt6GioxI/AAAAAAAAIbo/GYMF0XIjVhg7leWbkUlIiNyFvJ73ZyuBgCEwYBhgL/s1600/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" style="clear: left; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="977" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-7tCAZsakIHY/Wk9gt6GioxI/AAAAAAAAIbo/GYMF0XIjVhg7leWbkUlIiNyFvJ73ZyuBgCEwYBhgL/s200/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" width="121" /></a></div><span style="font-size: medium;">
Ainda a procissão ia no adro, ou melhor: ainda era de dia -- o período mais desinteressante na velha Torre da Barbela --, os poucos visitantes "<b>do costume</b>" iniciavam a ascenção dos seus 32 metros, e já o narrador pusera o caseiro-guia, muito despachado nas suas "<b>lérias de almanaque</b>", em "<b>ascrições latinas</b>", pedras de "<b>prumitiba</b>" ou mortes por "<b>adigestão</b>" para impressionar os excursionistas, que rapidamente se desvanecerão, sem outro interesse na narrativa que não fosse o de pontuar a vetustez e decorrente interesse patrimonial do edifício -- como seria de esperar dum grupo de de excursionistas.</span></div>
<div style="background-color: white; border-image: none; border: currentcolor; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
O registo é cómico desde o início: a fila de visitantes a caminho do alto é comparada com uma espécie de lombriga subindo por um enorme tubo digestivo, o próprio monumento:</span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
«<b>A bicha dentro do esófago da Torre contava para si os martírios passados naquela ascensão; uns davam <em> ah has</em> de alívio, outros comparavam com a escadaria do Bom Jesus do Monte, com a Torre dos Clérigos e ainda recordavam a subida ao Santuário de Lamego.</b>»<em> </em>(p.8)</span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
Ao tom farsante, imagens do remanso bucólico do país: o rio Lima, «<b>calão e adormecido</b>», que «<b>nem sabia de onde vinha</b>»; «<b>saudades da Índia à deriva num mar vegetal</b>», Natureza «a queixar-se do reumático», quotidiano vegetativo.</span></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
"<b>O dono actual, burgesso</b>" deste "<b>monumento nacional</b>" deixava-o ao abandono: «<b>E talvez fosse melhor assim. Não se industrializava nem se ofendia o sagrado das pedras, testemunhas de feitos extraordinários.</b>» (p.10) O dono da Torre que evoca o Portugal da época -- vasta paisagem para lá de Lisboa -- e o dono dele, Salazar</span>.</div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; font-family: georgia, serif; line-height: 20.79px; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">[<a href="http://12x25.blogspot.pt/2013/11/entre-digestoes-e-salazar-torre-da.html">repostagem</a>]</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-28012414356371911792021-03-21T20:35:00.000+00:002022-09-21T15:14:14.877+01:00um país de mortos-vivos - A TORRE DA BARBELA (1964)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-7tCAZsakIHY/Wk9gt6GioxI/AAAAAAAAIbo/ehwcB7V11e0HZi63SGm8AnZasEw9RJMUQCLcBGAs/s1600/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="977" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-7tCAZsakIHY/Wk9gt6GioxI/AAAAAAAAIbo/ehwcB7V11e0HZi63SGm8AnZasEw9RJMUQCLcBGAs/s200/1964-ATorreDaBarbela-RubenA_.jpg" width="121" /></a></div><span style="font-size: medium;">
Picaresco e fantástico, <i>A Torre da Barbela</i>, de Ruben A., tem uma originalidade que lhe dá um lugar único no panorama romanesco português, tanto quanto me é dado saber. Calculo que a reacção no ano em que foi publicado (1964) deva ter oscilado entre o estranhamento e a indiferença, que é o que sucede a tudo que esteja fora dos cânones. Nem era romance psicológico à <i>presença</i>, nem neo-realista e muito menos procurava imitar os franceses do <i>nouveau roman</i>. Embora não me pareça a obra-prima que alguns nela vêem, tem o atractivo de ser iconoclasta para com o romance português da época, e é-o com humor. E o autor, recorde-se, além de escritor desalinhado do <i>mainstream</i>, era também historiador circunspecto, nomeadamente do século XIX, sabendo muito bem o que estava a fazer -- literária e até, digamos, politicamente.<br />
Absolutamente marcante, portanto. O que esperar de uma catrefa de personagens de várias épocas que coexistem no mesmo espaço e interagem entre si? O guia burgesso e comerciante para turista entreter e, se possível, enrolar, situa-nos no espaço e no tempo; mas logo aparece um Menino Sancho, ser misterioso e disforme, e o lendário Cavaleiro da Barbela: «<b>De cada túmulo, de cada sarcófago ou fosso anónimo eles iam saindo, meio estonteados pelos séculos da História</b>»...<br />
Leio aqui o Portugal profundo de então: um país de mortos-vivos.<br />
</span><div style="text-align: right;">
(<a href="http://12x25.blogspot.pt/2013/04/um-pais-de-mortos-vivos.html">repostagem</a>)</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-32915864662247551912021-03-21T20:34:00.000+00:002021-03-21T20:34:29.778+00:00a filha do arcediago<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-WjhEQ-JvRvE/Wk9gKB4ZaTI/AAAAAAAAIbg/ZJzqhWoVHSgjQcyyHNd4gUWuuDVFyCkawCLcBGAs/s1600/CamiloCasteloBranco-AFilhaDoArcediago.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="316" data-original-width="200" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-WjhEQ-JvRvE/Wk9gKB4ZaTI/AAAAAAAAIbg/ZJzqhWoVHSgjQcyyHNd4gUWuuDVFyCkawCLcBGAs/s200/CamiloCasteloBranco-AFilhaDoArcediago.jpg" width="126" /></a></div><span style="font-size: medium;">
O prefácio: uma técnica de promoção do livro que inteligentemente se desdenha a si própria, como se escrevesse: "não tomem o que escrevo pelo seu valor facial, que eu não sou bom de assoar; no entanto, se quiserem umas horas bem passadas na companhia duma intriga palpitante, então comprem o raio do livro!"</span></div>
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
Este permanente jogo com o leitor sempre me fascinou no grande Camilo; artifício que depois se vai encontrar no não menor Machado de Assis, como escreve Paulo Franchetti, num excelente artigo lido <a href="http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/camiliana.htm">aqui</a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">
Um desavergonhado, no melhor sentido, o nosso autor (29 anos, em 1854), anunciando o seu romance com vozearia de feiras & mercados: <strong>«Leitores! Se há verdade sobre a Terra, é o romance que eu tenho a honra de oferecer às vossas horas de desenfado.»</strong>...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Camilo Castelo Branco, <em>A Filha do Arcediago</em> (1854), Mem Martins, Publicações Europa-América, 1977, p.5.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-37774403178278515332021-03-21T20:31:00.000+00:002021-03-21T20:31:25.464+00:00a parte pelo todo<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-HT8CCKp5Ewc/Wk9fqutAHoI/AAAAAAAAIbY/fUCKip1h4VYkG5TK1-81xuHhI1WSH3oqQCLcBGAs/s1600/AlmeidaGarrett-ViagensNaMinhaTerra.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><strong><img border="0" data-original-height="321" data-original-width="200" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-HT8CCKp5Ewc/Wk9fqutAHoI/AAAAAAAAIbY/fUCKip1h4VYkG5TK1-81xuHhI1WSH3oqQCLcBGAs/s200/AlmeidaGarrett-ViagensNaMinhaTerra.jpg" width="124" /></strong></a></div>
<span style="font-size: medium;"><u>Começar.</u><strong> «Que viaje à roda dos seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo -- entende-se.»</strong> <span>(Almeida Garrett, <em>Viagens na Minha Terra</em> [1846], <em> </em>cap. I, ed. cit., p . 9)</span><br />
<br />
<br />
<u>17 de Julho de 1843: o quarto não chega.</u><strong> «Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica.»</strong> <span>(p. 9)</span><br />
<br />
<br />
<span><span><u>Paisagem: o vapor afasta-se.</u> </span><strong> </strong></span><strong> «Assim vamos de todo o nosso vagar contemplando este majestoso e pitoresco anfiteatro de Lisboa oriental, que é, vista de fora, a mais bela e grandiosa parte da cidade, a mais característica, e onde, aqui e ali, algumas raras feições se percebem, ou mais exactamente se adivinham, da nossa velha e boa Lisboa das crónicas.»</strong> <span>(p. 10)</span><br />
<span><br /></span><u>
Vila Franca de Xira (outrora "da Restauração"): depoimento de um soldado liberal.</u><strong> «[...] Vila Franca a que foi de Xira, e depois da Restauração, e depois outra vez de Xira, quando a tal Restauração caiu, como todas as restaurações sucede e há-de suceder, em ódio e execração tal que nem uma pobre vila a quis para sobrenome. / -- A questão não era de restaurar, mas de se livrar a gente de um governo de patuscos, que é o mais odioso e engulhoso dos governos possíveis.»</strong> <span>(p. 10)</span><br />
<span><br /></span><u>
Do progresso (ou do optimismo).</u><strong> «Este necessário e inevitável reviramento por que vai passando o mundo há-de levar muito tempo, há-de ser contrastado por muita reacção antes de completar-se...»</strong> <span>(p. 11)</span><br />
<span><br /></span>
<br />
<u>Prazeres.</u> <strong>«No entretanto, vamos acender os nossos charutos [...] / [...] sentir na face e nos cabelos a brisa refrigerante que passou por cima da água, enquanto se aspiram molemente as narcóticas exalações de um bom cigarro de Havana, é uma das poucas coisas sinceramente boas que há neste mundo.»</strong> <span>(p. 11)</span><br />
<span><br /></span>
<span><span><u>Bairrismos: campinos e varinos.</u><strong> «Pois nós, que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes, que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?»</strong> </span><span>(p. 13)</span></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-19811317393984875052021-03-21T20:27:00.000+00:002021-03-21T20:27:26.687+00:00retrato do artista quando menos jovem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-KGN8Y6dxmZw/WcpWJveLAYI/AAAAAAAAG8U/Fn1WTl1kfFc5XeuAgnGM_JT4fyn4mZxXgCLcBGAs/s1600/AlmeidaGarrett-ViagensNaMinhaTerra.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1018" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-KGN8Y6dxmZw/WcpWJveLAYI/AAAAAAAAG8U/Fn1WTl1kfFc5XeuAgnGM_JT4fyn4mZxXgCLcBGAs/s200/AlmeidaGarrett-ViagensNaMinhaTerra.jpg" width="127" /></a></div>
<div align="justify"><span style="font-size: medium;">
Garret era um extraordinário <em>bon vivant</em>; nada do que respeitasse aos prazeres da vida lhe era alheio, o que não o inibiu de alcandorar-se em figura de primeira grandeza na vida pública e cultural do seu tempo. O legado político e literário confronta bem com as fraquezas, ou fortalezas -- depende do ponto de vista --, de João Baptista da Silva Leitão. E é isso que o capítulo inicial das <em>Viagens </em>evidencia em cada frase. Atente-se no sumário do capítulo I:</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><strong>«<em>De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas viagens. -- Parte para Santarém. -- Chega ao Terreira do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede. A </em>Dedução Cronológica <em>e a Baixa de Lisboa. -- Lord Byron e um bom charuto. -- Travam-se de razões os íhavos e os bordas-d'água: -- os da calça larga levam a melhor.</em>» </strong><span>Almeida Garrett, <em>Viagens na Minha Terra </em>[1846], Mem Martins, Publicações Europa-América, 1976, p. 9.</span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span><span style="font-size: medium;">Todo o tom é optimista, gozoso e sadio: o prazer da partida, a literatura, a paisagem, a política, mesmo quando adversa, as pessoas, a coloquialidade e a ironia, os pequenos prazeres, o humor -- acima de tudo. O tom de alguém que agarrou a vida com as duas mãos, dela sabendo retirar recompensa estética e sensorial, permitida ou conquistada. É um estilo de alguém que se sente muito bem na sua pele.</span></span></div>
<div align="justify">
<strong><span style="font-size: medium;"> </span></strong><em></em></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-17300618867666278852021-03-21T20:25:00.000+00:002021-03-21T20:25:34.814+00:00«Os visigodos»<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/9bqEyg51_wUZ6TaMxI_OO7rY2aKN8CkUgCEwYBhgL/s1600/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1482" data-original-width="940" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/9bqEyg51_wUZ6TaMxI_OO7rY2aKN8CkUgCEwYBhgL/s200/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" width="126" /></a></div>
<div style="border-image: none 100% / 1 / 0 stretch;"><span style="font-size: medium;">
Começar:<strong> «A raça dos visigodos, conquistadora das Espanhas, subjugara toda a Península havia mais de um século.» </strong><span>Alexandre Herculano, <em>Eurico, o Presbítero </em>[1844].</span></span></div>
</div>
<div align="justify">
<div style="border-image: none 100% / 1 / 0 stretch;"><span style="font-size: medium;">
Capítulo inicial, trata-se de um esquisso de enquadramento histórico (político e mental) da Ibéria, às vésperas da invasão muçulmano, tendo como epígrafe um passagem da <em>Crónica do Monge de </em>Silos, escrita no século XII: «<em>A um tempo toda a raça goda, soltas as rédeas do governo, começou a inclinar o ânimo para a lascívia e soberba.</em>». Pano de fundo sobre o qual se desenrolará a acção romanesca, o seu mais curto parágrafo exibe o tom:</span></div>
</div>
<div align="justify">
<div style="border-image: none 100% / 1 / 0 stretch;">
<span style="font-size: medium;"><strong>«Debalde muitos homens de génio revestidos da autoridade suprema tentaram evitar a ruína que viam no futuro: debalde o clero espanhol, incomparavelmente o mais alumiado da Europa naquelas eras tenebrosas e cuja influência nos negócios públicos era maior que a de todas as outras classes juntas, procurou nas severas leis dos concílios, que eram ao mesmo tempo verdadeiros parlamentos políticos, reter a nação que se despenhava. A podridão tinha chegado ao âmago da árvore, e ela devia secar. O próprio clero se corrompeu por fim. O vício e a degeneração corriam soltamente, rota a última barreira.»</strong> </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(Cap. I : 1-5)</span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-72794326497509029952021-03-21T20:24:00.000+00:002021-03-21T20:24:14.657+00:00História e ficção, mentira e verdade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/9bqEyg51_wUZ6TaMxI_OO7rY2aKN8CkUgCEwYBhgL/s1600/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1482" data-original-width="940" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/9bqEyg51_wUZ6TaMxI_OO7rY2aKN8CkUgCEwYBhgL/s200/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" width="126" /></a></div><span style="font-size: medium;">
Alexandre Herculano procurou nos romances históricos uma abordagem às mentalidades de época que não lhe dava uma heurística que relutava extravasar o dado documental. Debalde procurou suporte que lhe permitisse suprir essa lacuna na sua fundamental <em>História de Portugal </em>(1846-1853); e mesmo para as obras de ficção, a procura de vozes do passado que lhe transmitissem a dolorosa pena do celibato, cuja desumanidade desde a juventude o perturbava, resultou infrutífera, como assinala no prefácio do <em>Eurico</em>:</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><strong> «Essa crónica de amarguras procurei-a já pelos mosteiros, quando eles desabavam no meio das nossas transformações políticas. Era um buscar insensato. Nem nos códices iluminados da Idade Média, nem nos pálidos pergaminhos dos arquivos monásticos estava ela. Debaixo das lájeas que cobriam os sepulcros claustrais havia, por certo, muitos que a sabiam; mas as sepulturas dos monges acheia-as vazias.» </strong><span>Alexandre Herculano, <em>Eurico, o Presbítero </em>[1844], (ed. cit,, p.VI).</span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="justify"><span style="font-size: medium;">
Fez, assim, apelo à idiossincrasia poética e ao escopo artístico, ciente de que o ficcionista de recursos tem a intuição que faltará ao historiador. A esta, junte-se a ideia supletiva do romancista como alguém que mede a temperatura do tempo, e por isso mais fidedigna a ficção do que obras contemporâneas, propositadamente concebidas para deixar um testemunho à posteridade.<em> </em>Podemos lê-lo num artigo da <em>Panorama</em>, cujo excerto magnífico foi transcrito por Vitorino Nemésio, na apresentação da edição crítica (1944):</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><strong>«<em>Novela</em></strong><em> </em><strong>ou <em>História</em>, qual destas duas cousas é a mais verdadeira? Nenhuma, se o afirmarmos absolutamente de qualquer delas. Quando o carácter dos indivíduos ou das nações é suficientemente conhecido, quando os monumentos, as tradições e as crónicas desenharam esse carácter com pincel firme, o noveleiro pode ser mais verídico do que o historiador; porque está mais habituado a recompor o coração do que é morto pelo coração do que vive, o génio do povo que passou pelo do povo que passa. [...] Porque [os historiadores] recolhem e apuram monumentos que foram levantados ou exarados com o intuito de mentir à posteridade, enquanto a história da alma do homem deduzida lògicamente das suas acções incontestáveis não pode falhar, salvo se a natureza pudesse mentir e contradizer-se, como mentem e se contradizem os monumentos.» </strong><br />
Este <em>historiar da alma</em><strong> </strong>-- porventura a mais significante das historiografias -- remete-me para a maravilhosa <a href="http://acurvadoslivros.blogspot.pt/2017/09/historiadora-da-alma.html">Svetlana Alexievich,</a> que assim mesmo se definiu: «historiadora da alma», aqui já não se socorrendo (exclusivamente) da intuição, mas também do testemunho vívido e vivido.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-33242960748553852562021-03-21T20:23:00.000+00:002021-03-21T20:23:17.195+00:00da solidão no meio dos anjos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/1Nhw3ZtFFVERMJXcbUgepdZP6JnAgXuzACLcBGAs/s1600/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1482" data-original-width="940" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-d_IpjXtA16A/Wk9egYM4ADI/AAAAAAAAIbI/1Nhw3ZtFFVERMJXcbUgepdZP6JnAgXuzACLcBGAs/s200/AlexandreHerculano-EuricoOPresb%25C3%25ADtero.jpg" width="126" /></a></div><span style="font-size: medium;">
A questão do celibato dos padres interessa o Herculano (1810-1877) romancista pelo drama que a Igreja, especialmente com o Concílio de Trento (1545-1563), impôs aos seus ministros: o sacrifício <b>«da irremediável solidão da alma» </b>-- assim o escreve na apresentação de <em>Eurico, o</em> <em>Presbítero </em>(1844).</span></div>
<div align="justify"><span style="font-size: medium;">
No prefácio, o escritor deplora a misoginia subjacente àquele interdito, vendo a mulher como ideal salvífico e angelical<em> </em>de amor e bondade. A passagem seguinte dá bem a medida dessa idealidade romântica, em contraste com uma sordidez máscula que macula muito de "nós" (é seu o recurso à englobante primeira pessoa do plural): </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: medium;">«Dai às paixões todo o ardor que puderdes, aos prazeres mil vezes mais intensidade, aos sentidos a máxima energia e convertei o mundo em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo melancólico, os deleites serão apenas o prelúdio do tédio. Muitas vezes, na verdade, ela desce, arrastada por nós, ao charco imundo da extrema depravação moral; muitíssimas mais, porém, nos salva de nós mesmos e, pelo afecto e entusiasmo, nos impele a quanto há bom e generoso. Quem, ao menos uma vez, não creu na existência dos anjos revelados nos profundos vestígios dessa existência impressos num coração de mulher? E porque não seria ela na escala da criação um anel da cadeia dos entes, presa, de um lado, à humanidade pela fraqueza e pela morte e, do outro, aos espíritos puros pelo amor e pelo mistério? Porque não seria a mulher o intermédio entre o céu e a terra?»</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><strong>Alexandre Herculano, <em>Eurico, o Presbítero </em>[1844], </strong>40.ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, s.d., pp. III-VII.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-74711661570428437442021-03-21T19:59:00.000+00:002021-03-21T19:59:44.876+00:00 A SELVA (1930): fogo e cinza, destruição e regeneração<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s1600/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1062" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s200/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" width="132" /></a></div><span style="font-size: medium;">
Última fala do negro Tiago, uma das personagens-chave de <em>A Selva</em>. Antigo escravo, velho coxo a quem os seringueiros tratavam por «Estica», de propósito para ouvi-lo praguejar dolorosamente, a todos proibia a alcunha excepto ao patrão, Juca Tristão, a quem tudo permitia, o que não impediu que o matasse. É Tiago quem lança fogo ao seringal após o aprisionamento de seringueiros fugitivos, de quem Alberto fora cúmplice na fuga, um deles o caboclo Firmino. Capturados por outros seringueiros -- episódio que suscita a Ferreira de Castro um extraordinário trecho --, são amarrados e açoitados no tronco, tal como sucedia, no tempo da escravatura, àqueles que eram apanhados. A passagem acima citada começa com a resposta a um dos seringueiros libertos pela acção de Tiago, um dos que lhe chamava «Estica» e queria agora, muito humanamente, agradecer-lhe o gesto . Um clic tinha-se produzido no velho e submisso Tiago, que se insurge da forma mais extrema. É esta insurreição, a destruição pelo fogo do algoz, que termina o calvário daqueles pobres diabos. A primeira leitura é óbvia: em situações extremas, justifica-se a eliminação do opressor. O que viria a seguir, Ferreira de Castro não nos diz, porque sabemos que a mesma exploração iria continuar, exercida por outrém sobre aqueles trabalhadores. A esperança reside num <em>amanhã</em> redentor, longínquo, mas que há-de vir. Em Novembro de 1929, o escritor terminava assim o seu romance: «<b>O clarão perdia terreno: já não se via o bananal, apagavam-se ao longe os contornos da selva, o rio fundira-se na noite e os troncos cinzentos das palmeiras começavam a vestir-se de luto. Quando chegasse a manhã, derramando da sua inesgotável cornucópia a luz dos trópicos, haveria ali apenas um montão de cinzas, que o vento, em breve, dispersaria...» (Cap. XV, 1ª ed., p. 333)</b></span></div>
<div align="justify">
</div>
<div align="justify"><span style="font-size: medium;">
O vento varre as cinzas dos escombros e limpa o terreiro para o que a seguir virá.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="justify">
<div align="justify">
<b><span style="font-size: medium;">«--Me deixa sua peste! Me deixa já! Não foi por ti nem pelos outros como tu que perdi a minha alma e vou para o inferno! Foi porque seu Juca te fez escravo e aos outros safados que te acompanham. Se estivesse no tronco, como tu, o feitor que me batia lá no Maranhão, eu também matava a seu Juca. Negro é livre! O homem é livre!</span></b></div>
<div align="justify">
<b><span style="font-size: medium;">[...]</span></b></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><b>-- Me mande matar, se quiser, branco. Eu já sou muito velho e não preciso de viver mais...»</b> <span>Cap. XV, 32ª ed., p.287</span></span><span style="font-size: x-small;">. (18 de Julho de 2005)</span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-72471981255470951652021-03-21T19:57:00.000+00:002021-03-21T19:57:07.317+00:00A SELVA (1930): luta de classes e maniqueísmo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s1600/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1062" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s200/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" width="132" /></a></div><span style="font-size: medium;">
A passagem em itálico não consta da edição inicial. Embora uma certa crítica tivesse papagueado que nos livros de Ferreira de Castro não havia luta de classes, entre outros disparates, Castro terá achado por bem, em edições posteriores, explicitar melhor a natureza das relações económicas do circuito trabalhador-patrão-intermediário. Daqui resulta algum aligeirar do peso da carga predatória do patrão, dado, apesar de tudo como uma peça da engrenagem. Não por acaso. Em Castro é difícil encontrar maniqueísmo. No capítulo anterior, a propósito do famigerado Juca Tristão, concede-lhe um natural estatuto de humanidade, com as suas claridades e as suas sombras: «Era certos que os homens são bons ou maus conforme a posição em que se encontram perante nós e nós perante eles; e falso o indivíduo-bloco, o indivíduo sem nenhum contradição, sempre, sempre igual no seu procedimento.» (Cap. XIV, 32ª ed., pp. 258-259). Esta posição, que é explorada noutros romances, como <em>A Lã e a Neve</em> (1947), faz com que a visão do mundo dada por Ferreira de Castro através dos seus livros fuja ao esquematismo dogmático, intolerante, prisioneiro de uma doutrina determinada e, por conseguinte, não-livre. </span></div>
<div align="justify">
<br /></div>
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"></span><br />
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><strong>«"[...] E se Juca descobrisse? Se descobrisse que fora ele quem fornecera a lima?"</strong></span></span></div>
<span style="font-size: x-small;">
</span>
<br />
<div align="justify">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;"><strong>[...] "E se descobrisse?" Os nervos entumeceram-se-lhe numa súbita coragem. "Fizera muito bem! Fizera muito bem!" -- repetiu a si próprio. -- "Aqueles homens já não deviam nada. Há muito tempo que tinham pago, quatro ou cinco vezes mais do que o seu justo valor, tudo quanto haviam consumido. <em>Era uma exploração em cadeia. A casa aviadora explorava Juca, ele, por sua vez, explorava os seringueiros, que eram, no fim, os únicos explorados. Mas Juca podia, ao menos, protestar, enquanto que aos seringueiros nem sequer isso seria permitido."</em>»</strong></span> <span style="font-size: x-small;">Cap. XV, 32ª ed., p. 263.</span>(18 de Julho de 2005)</span></div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-1381837545441528792021-03-21T19:53:00.000+00:002021-03-21T19:53:15.950+00:00 motu proprio: A SELVA (1930): anarquismo: o social sobre o político<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s1600/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1062" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIbA/YQ1YY-RR5-Ypx2fgcAoFwX9bvRrWX_TlgCEwYBhgL/s200/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" width="132" /></a></div><span style="font-size: medium;">
O redentorismo libertário tem aqui uma eloquente expressão, com a rejeição da divisão política, superficial ou dogmática, em favor de uma ideia mais vasta de ascensão comunitária projectando-se num futuro: «era no que estava por fazer, que o homem viria a encontrar, talvez, o melhor de si próprio.» Sem messianismo, como às vezes se diz, mas antes com uma convicção profunda na capacidade de auto-superação do género humano: a libertação do homem tem de ser feita pelo próprio homem. Este humanismo não se queda em especulação de gabinete, mas abre-se à acção; é, por isso, voluntarista, reactivo, proactivo, revolucionário, libertário, anarquista:</span></div>
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<strong><span style="font-size: medium;">«Alberto não lhe dava atenção. Prendia-o a carta materna, com a notícia de que os republicanos haviam, enfim, resolvido amnistiar os insurrectos de Monsanto.</span></strong></div>
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<strong><span style="font-size: medium;">[...]</span></strong></div>
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<strong><span style="font-size: medium;">"Os republicanos... Os monárquicos..." Tudo aquilo lhe soava imprevistamente a oco, longínquo e sem sentido. Arrefecera-lhe a paixão, as suas antigas ideias pareciam-lhe de tempos remotos, dum outro eu que se perdera e esfumara na lonjura. Examinava agora, a sangue-frio, a sua causa vencida e nenhum ódio guardava para os adversários que combatera anos antes. [...] Cada vez sentia menos o domínio das teorias que o haviam forçado a emigrar e parecia-lhe mesmo que sobre elas se iam condensando, de modo ainda mal definido, uma razão diferente e um sentimento de justiça nova, mais profunda e mais vasta. "Em muitas das suas expressões, a vida rastejava ainda, em tanto mundo e ali mesmo, à altura dos pés humanos; e não era decerto com os velhos processos, já experimentados durante dezenas de séculos, que ela poderia ascender aos níveis que o cérebro entrevia. Não era, decerto, no que estava feito, era no que estava por fazer, que o homem viria a encontrar, talvez, o melhor de si próprio."»</span></strong></div>
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<span style="font-size: x-small;">Cap. XII, 32ª ed., pp. 225-226. (17 de Julho de 2005)</span></div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-40863706399506001362021-03-21T19:48:00.000+00:002021-03-21T19:48:42.545+00:00motu proprio: A SELVA (1930): selva metafórica e selva literal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-CG-sl6c8Dtg/Wk9oj-E1kgI/AAAAAAAAIcM/Piz7ErOZVDU4f7qDONYXT6ElL2j56-UuwCLcBGAs/s1600/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1062" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-CG-sl6c8Dtg/Wk9oj-E1kgI/AAAAAAAAIcM/Piz7ErOZVDU4f7qDONYXT6ElL2j56-UuwCLcBGAs/s200/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" width="132" /></a></div>
<span style="font-size: medium;">Selva metafórica e selva literal, em ambas presente a necessidade vital de superação, na «luta desesperada de caules e ramos».</span></div>
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<strong><span style="font-size: medium;">«</span></strong><span><strong><span style="font-size: medium;">Adivinhava-se a luta desesperada de caules e ramos, ali onde dificilmente se encontrava um palmo de chão que não alimentasse vida triunfante. A selva dominava tudo. Não era o segundo reino, era o primeiro em força e categoria, tudo abandonando a um plano secundário. E o homem, simples transeunte no flanco do enigma, via-se obrigado a entregar o seu destino àquele despotismo. O animal esfrangalhava-se no império vegetal e, para ter alguma voz na solidão reinante, forçoso se lhe tornava vestir a pele de fera. [...]»</span></strong><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: x-small;">Cap. V, 32ª ed., p. 106. (16 de Julho de 2005)</span></span></div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4280975180233069386.post-20415941788708335612021-03-21T19:47:00.000+00:002021-03-21T19:47:30.652+00:00A SELVA (1930): o rebanho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://4.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIa4/95qkua3RL40ngmqosFQ5jaWIIETS4S-jQCEwYBhgL/s1600/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1062" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-uH7vujkTCRw/Wk9cMjkMmTI/AAAAAAAAIa4/95qkua3RL40ngmqosFQ5jaWIIETS4S-jQCEwYBhgL/s200/1930-ASelva-FerreiraDeCastro.jpg" width="132" /></a></div><span style="font-size: medium;">
Aportados a Manaus, numa escala, os futuros seringueiros são proibidos de desembarcar para uma simples visita à cidade pelo angariador de mão-de-obra, Balbino. O trecho abaixo, referente à atitude de Alberto em não acatar uma decisão autoritária, reflecte um espírito de insubmissão e rebeldia, além de desgosto pela passividade dos restantes trabalhadores.</span></div>
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<strong><span style="font-size: medium;">«Ia a voltar-se para encarar quem punha dúvida na sua resolução, que era firme, mas logo se deteve numa atitude de orgulho juvenil. Tanto como aquele que cerceava a liberdade, indignava-o a alma submissa dos que acatavam, silenciosa e passivamente, a ordem iníqua. "iria! Iria custasse, o que custasse!»</span></strong> <span style="font-size: x-small;">Cap. III, 32ª ed., pp. 64-65.</span></div>
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