No entanto, para além do lugar-comum do preconceito e do estado da arte da sexologia, O Barão de Lavos é sem dúvida um notável exercício de perscrutação psicológica ensaiada na personagem D. Sebastião Pires de Castro e Noronha, o titular do romance.
Romance que tem um pouco d'O Primo Basílio, embora esteja simultaneamente aquém e para além dele. Para o pior e para o melhor, Abel Botelho não é Eça de Queirós: Militão compete com Acácio, mas não lhe ganha em estupidez; Doroteia emula Juliana, mas não lhe alcança a malignidade; Elvira, a baronesa, menos cândida que Luísa, por isso mais desce e melhor se safa.
Nada no Primo, porém , bate a execração atingida pelo Barão. E se a amizade em alto grau também está presente no romance queirosiano (Sebastião, amigo de Jorge), no romance de Botelho atinge um alto significado ético, nas figuras de Paradela e do Marquês de Torredeita, não faltando ao Barão de Lavos, mesmo quando este chafurda na maior abjecção.
Quanto ao estilo, apesar da pecha de escola naturalista da hiperdescrição, o livro não é daqueles em que o autor mais abusa e, em compensação, exibe passagens de grande beleza estilística e conceptual.
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