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segunda-feira, 22 de junho de 2020

3 fragmentos de A BOCA DA ESFINGE (1924), de Eduardo Frias e Ferreira de Castro

1. «Ele falava lentamente, tristemente, como se falasse de mortos muitos queridos.» A repetição do advérbio de modo, muito comum em Ferreira de Castro neste primeiro período da sua vida literária, persistindo ocasionalmente depois.

2. «Berenice continuava silenciosa: -- quase abstracta: -- os olhos pousados sobre o largo cais: -- esse cais que o sol crepuscular ia empalidecendo: -- e onde uma multidão invejosa ou saudosa dos que partiam, aguardava que o vapor levantasse ferro.» A luz, sempre a luz; e uma alusão aos que ficam no cais, vendo os outros partir, com desenvolvimentos em Emigrantes, quatro anos mais tarde.

3. «E como a corroborar as últimas palavras da mulher, um criado passou pelo convés agitando uma grande campainha: -- miniatura de sino dobrando tristeza: -- avisando aos estranhos que estavam a bordo, que deviam abandonar o navio, porque este ia partir.» Uma extraordinária comparação da campainha do criado no convés, avisando as pessoas para se separarem -- os que vão e os que ficam (por quanto tempo?...) -- com um dobre a finados.




(do capítulo I da 1.ª parte; Lisboa, Livrarias Aillaud e Bertrand, pp. 17-23)

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