Eurico, recolhido para o mundo e aberto para Deus entregava-se à composição poética em seu louvor, ao entardecer, ficando até altas hora nas falésias sobre a baía de Carteia, aproveitando, como Herculano explica no corpo do texto, que Santo Isidoro de Sevilha fomentara nas cerimónias religiosas durante o IV Concílio de Toledo (633): «Nenhum de vós ouse reprovar os hinos compostos em louvor de Deus.»; e a sua condição poética fazia-o entender a natureza do cristianismo, radicada no amor: «[…] Eurico percebera claramente que o Cristianismo se resume em uma palavra -- fraternidade. Sabia que o Evangelho é um protesto, ditado por Deus para os séculos, contra as vãs distinções que a força e o orgulho radicaram neste mundo de lodo, de opressão e de sangue; sabia que a única nobreza é a dos corações e dos entendimentos que procuram erguer-se para as alturas do céu, mas que essa superioridade real é exteriormente humilde e singela.»
Surge aqui o Herculano liberal adversário da tradição no que esta tinha de manutenção ilegítima de privilégios, a começar pelos da própria Igreja, estendendo-se à restante sociedade. (Aliás o escritor recusou ser nobilitado pelo rei, seu antigo pupilo, ao contrário do que sucederia com Garrett, Castilho e mais tarde Camilo, que andou na pedincha.)
Surge aqui o Herculano liberal adversário da tradição no que esta tinha de manutenção ilegítima de privilégios, a começar pelos da própria Igreja, estendendo-se à restante sociedade. (Aliás o escritor recusou ser nobilitado pelo rei, seu antigo pupilo, ao contrário do que sucederia com Garrett, Castilho e mais tarde Camilo, que andou na pedincha.)
do cap. III, «O poeta», pp. 12-20
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