cronologia dos autores

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

BALZAC, de Jaime Brasil [1966]

     O arranque:«O fenómeno Balzac é um quebra-cabeças para quem conhece a vida do escritor e lhe lê as obras.» 
     Livrinho de 42+6 páginas, certamente a introdução geral à monumental edição de A Comédia Humana, que a Portugália Editora começou a publicar em 1966, sob a direcção de José da Cruz Santos. O opúsculo é uma jóia, e bem merecia uma reedição, pelo estilo sedutor de Brasil, pela sua notável concisão. A capa, com uma foto da perturbante escultura de Rodin, erigida no Père Lachaise, reenvia-me para outra excelente biografia de Jaime Brasil, sobre o artista de O Beijo, texto de maior fôlego, escrita na Paris já sob ocupação (conspirador anarquista, a fuga para Portugal, em 1941, terá como consequência a prisão, episódio de que falarei noutra altura, a propósito doutro livro).
     A dualidade homem-artista vai ocupar as primeiras páginas. O contraste entre o saco de carne, ossos e vísceras (e vícios) e o génio criador levou Brasil a escrever: « [...] O artista é um instrumento, irresponsável pela tarefa que executa. Não tem nenhum mérito em realizá-la. Obedece a um imperativo que lhe é exterior. O génio é uma excrescência no homem, como uma neoplasia.  Não se sabe de onde vem. Não é inato no indivíduo. Surge em determinado momento da vida, misteriosamente. Tem intermitências: obras geniais alternam com outras medíocres do mesmo autor.»
     Repare-se na arrumação destes períodos: frases curtas e lapidares denunciam a um tempo o jornalista experiente na comunicação com um público vasto e um autor de fortes convicções.
     Quanto à origem do génio, talvez não seja despropositado acrescentar que os indivíduos que -- ultrapassando ou não condicionalismos de partida que os destinariam à mediocridade -- se alçapremaram a uma posição única, pelo que representaram no seu tempo e que de alguma forma lograram a imortalidade, são produtos de uma aleatória transmissão genética; porém, parece pacífico que tanto a inteligência como a sensibilidade se potenciam nos primeiros anos de vida, aguardando apenas a oportunidade de eclodirem naqueles que o acaso -- biológico e biográfico -- bafejou.

     Jaime Brasil, Balzac -- Escorço da complexa personalidade do autor de A Comédia Humana, Lisboa, Portugália Editora [1966].

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