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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

«Eurico o Presbítero» 8. - Um homem aniquilado



Continuar: «O mar estava tranquilo, e o ar puro e diáfano. As costas de África fronteiras, lá na extremidade do horizonte, pareciam uma orla escura bordada no manto azul do firmamento.»

Abril de 711. O refúgio em si, ao largo da bacia de Algeciras, na embarcação de Ranimiro, pretexto para, mais uma vez, acentuar a diferente sensibilidade entre as almas simples, como a do barqueiro, e as inquietas, como a sua, Eurico, poeta e guerreiro feito sacerdote.
«Bem-aventurado, pensei eu comigo, aquele em que os afagos de uma tarde serena de primavera no silêncio da solidão produzem o torpor dos membros; porque nessa alma dormem profundamente as dores no meio do ruído da vida!»
Saudade de Hermengarda e do amante arrebatado e sincero que foi; revolta e despeito contra ad-os que lhe preteriram a pureza à linhagem e ao pecúlio; e contra a própria amada e o pai desta, que a prostitui honradamente.
«Porque mulher bárbara não entendeu o que valia o amor de Eurico; porque velho, orgulhoso e avaro sabia mais um nome de avós que eu, e porque nos seus cofres havia mais alguns punhados de oiro que nos meus.»
Desespero sem remissão: esquecer é uma impossibilidade, a escapatória é uma espécie de "suicídio": mais do que o tomar ordens, haverá outro modo de se aniquilar, nas graças de Deus.

cap. VI, «Saudade», pp. 38-45

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