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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

VIAGENS NA MINHA TERRA (1846): o desgosto burguês e a pureza do povo

«Assim o povo, que tem sempre melhor gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade, os seus passeios favoritos são a Madre de Deus e o Beato e Xabregas e Marvila e as hortas de Chelas. A um lado, a imensa majestade do Tejo em sua maior extensão e poder, que ali mais parece um pequeno mar mediterrâneo; do outro, a frescura das hortas e a sombra das árvores, palácios, mosteiros, sítios consagrados todos a recordações grandes ou queridas. Que outra saída tem Lisboa que se compare em beleza com esta? Tirado Belém, nenhuma. E ainda assim, Belém é mais árido.»

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)

Desgosto por desagrado e por estética também. O povo é são, a burguesia (e quem a apoiar) é escumalha. O povo não está degradado, a burguesia (e quem a apoiar) é degradada por natureza: veja-se o sentido de harmonia desse mesmo povo, sobre quem as excelências cavalgam ou pisam.

É bonito? É... É falso? É pelo menos forçado; mas em estética tudo se permite.

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